quinta-feira, 13 de novembro de 2014

 
Sobre sobras
 
Todo adulto saudável e maduro afetivamente tem passado! Não poderia dizer um passado, tem na verdade vários passados, vários amores que duraram o que tinha de durar. Contos trágicos, tristes, melancólicos. Contos bonitos, saudáveis, que simplesmente acabaram por distância ou por qualquer que seja o desfecho que a vida deu, mas que também teve um fim. Quando entramos em uma nova relação, quando nos disponibilizamos para viver uma história, um romance, temos que ter na cabeça que aquele indivíduo é a soma do que ele realmente é com as coisas que ele viveu ao lado de outras pessoas. E que bom que viveu! Já pensaram em namorar um indivíduo de 40 anos completamente virgem de sentimento, de romances, e até mesmo sexualmente? Seria sem dúvidas uma catástrofe,  seria como namorar um corpo já mais cansado com uma mente amorosa de uma pessoa de 16 anos. Um caos! Por isso ter a consciência que o outro tem um passado que o constituiu quem é, inclusive como amante, é saudável. Mas, uma coisa é ter passado, passados, vidas vividas antes de ti, outra é carregar sombras, fantasmas. Outra coisa é se permitir viver uma história onde teu parceiro, ou parceira, deixa o passado se fazer presente no teu dia a dia. Eu bem sei que se concelho fosse bom não se dava, vendia, mas se esbarrares com alguém assim faças o seguinte: fujas, corras léguas! Esta pessoa não está a ser honesta nem com ela e nem contigo! E sem dúvida as sombras tornarão tua vida um mar de desalento, e a sensação de uma relação completa nunca, em hipótese nenhuma, um dia há de vir. Pois, sem querer, tu serás ancora da sombra de um passado que não te pertence. O ideal para quem ainda tem sombra é ter casos, rolos, afinal toda gente sente falta de contato físico, de se sentir desejado, de sexo mesmo! E neste caso o bom é deixar claro para o outro que é o envolvimento é apenas isto, que se quer e ter certeza que o outro entendeu que nunca passarão daquilo de antemão estar a ser proposto. 
Pois se pensarmos bem, ser a pedra onde a sombra do outro vai ancorar é servir de trampolim para o egoísmo de alguém que não encontra-se inteiro para viver uma relação, e não há quem, e plena consciência  no mundo que queira ser remédio para ninguém, porque sabemos bem que quando a ferida sara toda gente vai embora do hospital, mas o hospital fica lá, e com tudo que fez curar o outro, ficou com menos água, remédio, horas... Mais desgastado... Por isso, corras de quem tem sombras! Pois o amor para ser bom, tem que ser leve e inteiro, e nunca aos fragmentos.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014


O silêncio ensurdecedor


Em um  dia frio de outono, eu estava submersa por água quente dentro de minha banheira, e para esquecer que a realidade monótona e fria existia eu mergulhei quase totalmente meu corpo deixando apenas nariz e olhos para fora. Naquele instante eu via a luz da chama que ardia na vela que deixava a penumbra mais interessante que qualquer pensamento que eu poderia ter naquele momento. Com os ouvidos submersos por toda aquela água eu me concentrei em ouvir o silêncio, mas meu coração não permitia. Ele batia como se fosse a canção da minha vida em um compasso  tão agradável como a mais doce melodia que já havia ouvido um dia. E me dei conta de que ele batia apenas por mim, e por mais ninguém no mundo, ele estava escasso de angústia, dor ou sofrimento. Não possuía ansiedade e ou qualquer outro tipo de sentimento que o fizesse cair em pranto. Dei por mim que possuía um coração vazio ou ausente, um coração que não podia ser magoado ou abandonado. Mas, aquele coração que batia tão docemente era sem dúvidas um coração cheio de sol, como um tesouro, transbordando de amor e cuidado para quem o conseguisse retirar daquele sono, que mais parecia eterno. O tal coração olhava para os lados, para trás e também para frente, mas não via, não sentia a presença de quem, de certo, ao seu lado tornaria aquela melodia perfeita em uma imperfeição composta pela beleza de ser dois a partilhar uma vida lado a lado. Porque ele sabia que não podia ser metade da laranja de ninguém, porque era um coração inteiro, e procurava apenas  quem também transbordasse completude.
Continues a bater coração, quem sabe um dia...

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

     



E se...


Se eu acreditasse que deus existe, qualquer deus, não só o deus católico, mas qualquer deus no universo mesmo, hoje eu pediria para o mundo parar, para o tempo parar, para o espaço se dilacerar. 
Eu pediria para acreditar, para pensar igual, para não doer nunca mais. Eu pediria para confessar todo esse meu medo de ser quem eu sou, de ser como sou. Eu pediria para querer ser igual, igual na singularidade da minha diferença. 
Como dói e dilacera meu coração a arrogância e a desinformação. Como dói a dor de não entender a massificação do ser. 
Pensar demasiado dói... E dói cada vez mais não fazer parte do que rejeito. E é assim que sigo os meus dias, carregando uma alegria triste, que chora e ri do que não deseja e nunca desejou ser um dia.